domingo, 2 de março de 2008

Por que o Nintendo 64 fracassou?



Talvez os mais novos não se lembrem, mas à época do seu lançamento, o Nintendo 64 foi apresentado pela Nintendo como "o console mais poderoso do mercado", ou qualquer coisa do tipo. Mas, como viemos a saber mais tarde, essa era uma verdade relativa. De fato, o Nintendo 64, com seus 64 bits, tinha pontos fortes. O problema-mor é que, suas fraquezas, combinadas, tornavam a vida dos desenvolvedores muito difícil, e isso se refletia na pouca quantidade de games disponíveis, e na simplicidade da maioria deles.

Na Wikipédia inglesa, no artigo sobre o N64, há um tópico interessante que junta todas essas características ruins, entitulado Programming difficulties (em português, "dificuldades de programação").

No tópico, o principal culpado indicado é o limitado cache de texturas, de apenas 4 KiB. Traduzindo, isso significa que os desenvolvedores ficavam limitados a texturas simples e de baixa qualidade, já que a pouca quantidade de memória não deixava criar coisas mais elaboradas. Para driblar essa limitação, apelava-se para o esticamento de texturas, e isso, combinado com o filtro bilinear do N64, proporcionava aqueles gráficos meio borrados. Em games cujo apelo passava longe do realismo, como Super Mario 64, dava para quebrar o galho. Isso não significa que a sensação de borrão não existia em tais jogos; quem já jogou SM64, sabe que isso existe, sim. No fim do ciclo do N64, os desenvolvedores dominavam truques para burlar essa limitação, o que resultou em jogos mais agradáveis tecnicamente falando, como Conker's Bad Fur Day.

Outro ponto fraco que dificultava a vida de quem desenvolvia games era o subsistema de memória unificado (RDRAM), com alta latência que gerava gargalos no processamento. O setup do joystick também era muito criticado, devido à sua pobreza de recursos.

Outro fator-chave foi o uso de cartuchos, limitados por natureza. Em outro ponto do artigo, onde são citadas as desvantagens de tal formato de distribuição de jogos, são mostrados alguns fatores contrários:

  • Manufatura mais complexa e a custos mais elevados;

  • Espaço limitado a 64 MB (enquanto CDs armazenavam 650 MB), algo inconcebível, dado o tamanho dos games da quinta geração;

  • Em CD, um game poderia ser dividido em dois ou mais discos; em cartucho, tal prática era inviável, dados os altos custos de produção;
  • Cut-scenes, os famosos "vidinhos", eram raríssimos, justamente por causa do tamanho limitado do cartucho. Resident Evil 2, um dos únicos games que traziam cut-scenes, usava vídeos pré-gravados, copiados da versão do PlayStation. A maioria dos jogos usava gráficos gerados em tempo real pela CPU.


Os gráficos sofriam com as limitações do cartucho, sem falar no áudio... A Nintendo apostou alto num formato obsoleto, e como muitos previram desde quando a empresa anunciou que o então Ultra 64 usaria cartuchos ao invés de CDs, ficou atrás na briga com o PlayStation - o Saturn não conta, afinal, chutar cachorro morto não tem graça.

Por fim, o que colocou uma pedra sobre o Nintendo 64 foi a falta de apoio por parte de grandes softwarehouses. Capcom, Square, Konami... Todas as grandes, se não apoiaram, o fizeram de maneira tímida e desinteressante. Como podia um vídeo game, naquela época, sobreviver sem Street Fighter, Final Fantasy, Winning Eleven (decente; aquele Super Star Soccer era uma droga)? Pois é. As principais desenvolvedoras de games para o N64 eram a própria Nintendo, a parceira Rareware, e a Midway. Voltarei a falar sobre isso em outra oportunidade...

Como se vê, a vida do Nintendo 64 foi curta e nada fácil. Culpa da Nintendo, e sua mente estagnada num passado nostálgico e obsoleto. Quiseram tentar reaviver a magia do Super Nintendo, mas a fórmula não funcionou. Nem parece a mesma empresa que, ano passado, revolucionou o mercado com o surpreendente Wii... Pelo menos alguns grandes games ficaram, e ajudaram a, aos trancos e barrancos, escrever a história do N64. Aos poucos os mostrarei aqui. Bem aos poucos, como podem ver =)